Mesas-redondas
Mesa-redonda 1: As Faculdades de Medicina na
Era do Saneamento
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A história da medicina em São Paulo e a fundação do ensino superior: buscando associações
Márcia Regina Barros da Silva (USP)
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A história da implantação do ensino médico em São Paulo esteve atrelada desde o final do século XIX a uma gama de transformações, as quais, ao mesmo tempo, alteravam a estrutura da atenção sanitária e da profissão médica no estado. Era esse o momento de mudanças políticas, com a proclamação da República, e na forma de produzir e validar o conhecimento microbiológico. A capital paulista foi palco de tentativas de criação formal de uma escola médica desde 1891, no entanto, somente contou com uma faculdade oficial em 1912, a Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, que viria a funcionar no ano seguinte. Porém, antes disso, o estado viu ser criada uma universidade livre, em 1911, que também contou com uma faculdade de medicina, mas que não conseguiu formar nenhuma turma de médicos, vencida, principalmente, pela disputa com a faculdade oficial. O ensino médico paulista foi estabelecido a partir da associação com outras instituições, como os hospitais da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, a Sociedade de Medicina, revistas médicas e um conjunto de instituições, atividades e médicos, proporcionando experiências e adeptos à medicina experimental muito antes da fundação de instituições formais.
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Nove de janeiro de 1919, uma data em exame: os primeiros dias da Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará
José Maria Castro Abreu Junior (UFPA)
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Por meio de documentos inéditos, revisita-se os dias iniciais de criação da primeira Faculdade de Medicina da Amazônia brasileira. Alguns personagens, cuja participação no evento é tradicionalmente minimizada ou ocultada na historiografia convencional, têm seu protagonismo recuperado. As relações dos médicos fundadores entre si e suas conexões com a agenda nacional que a medicina se impunha na chamada “era do saneamento” são apontadas, entre outras razões, para o pioneirismo da iniciativa de implantar o ensino médico em uma região distante do eixo sul-sudeste, em um momento economicamente desfavorável.
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Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará: os primeiros formados e a sua equiparação
Aristóteles Guilliod de Miranda (UFPA)
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Fundada em 1919, a Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará – a oitava escola médica criada no Brasil – formou seus primeiros médicos em 1924. De um grupo grande e heterogêneo de 58 pessoas que iniciou os estudos, apenas quatro conseguiram conclui-lo em seis anos, tempo previsto de duração do curso. Se o número de candidatos sinaliza uma facilidade para o ingresso, necessária para a sobrevivência de um curso a ser mantido com o pagamento de mensalidades, além de algumas doações, o pequeno número de concluintes evidencia o rigor imprimido aos estudos na busca de credibilidade, o que gerou uma crise administrativa. Rigor e credibilidade postos à prova a quando do processo de equiparação da nova faculdade de medicina.
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Mesa-redonda 2: Ciências no plural: alimentação e saúde dos povos da floresta
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Farinha como patrimônio: saberes e indicação geográfica no
nordeste paraense
Érico Silva Muniz (UFPA)
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Esta comunicação tem por objetivo apresentar resultados preliminares de uma pesquisa em curso sobre o processo de indicação geográfica (IG) e certificação como produto artesanal da farinha de mandioca produzida na região bragantina, situada no nordeste do estado do Pará, parte da Amazônia brasileira. Através de pesquisas com fontes arquivísticas e trabalho de campo com agricultores familiares e gestores públicos localizados nas cidades de Augusto Corrêa, Tracuateua e Bragança, o trabalho desenvolvido entre membros de equipes da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) dimensiona aspectos dos debates sobre o selo de certificação da farinha bragantina. Analisamos as concepções de “farinha boa” para a ciência e para as populações da região (indígenas, quilombolas e ribeirinhas), observando o discurso construído pelos entes públicos que acompanham o processo, onde análises laboratoriais dos valores nutricionais e a pureza do produto são questionados pela meritocracia acadêmica das comunidades científicas.
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Koja xo kurupi hun pe: resistência alimentar na Amazônia Oriental
Karina Borges Cordovil (UFPA)
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O objetivo é socializar uma investigação em curso sobre as práticas alimentares Ka’apor, feita por meio de fontes orais e observações realizadas em campo. A pesquisa parte da ideia de que tanto a territorialização quanto a formação da aldeia Gurupiúna, no território indígena do Alto Turiaçu, são respostas epistêmicas (saberes), considerando a cosmovisão indígena, às problemáticas que envolvem o mundo ocidental, como a degradação ambiental, o consumo excessivo de alimentos industrializados (principalmente de frango), queimadas e outras características do Antropoceno.
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Cosmopolítica do corpo, da saúde e da doença Tembé
Vanderlúcia da Silva Ponte (UFPA)
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A comunicação propõe um debate sobre corpo, saúde e doença na perspectiva da política cósmica indígena, com foco no período gestacional, parto e pós-parto das mulheres Tenetehar-Tembé. Para esse povo, o adoecer e o restabelecimento da saúde estão relacionados com a espiritualidade e os elementos da natureza, que agem sobre o corpo da mulher determinando seu bem-estar e/ou adoecimento. Os processos rituais de comensalidade e de passagem são componentes importantes na construção do corpo e no controle das doenças, posto que a mulher em estado liminar pode interditar ações, renomear sentidos na esfera política e intercambiar relações entre humanos e não humanos.
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Mesa-redonda 3: Conhecimento e experiência colonial na Amazônia
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O cravo do Maranhão e o Oriente
Rafael Chambouleyron (UFPA)
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O objetivo desta comunicação é discutir o descobrimento do chamado cravo do Maranhão (Dicypellium caryophyllaceum (Mart.) Nees) no século XVII, a partir da experiência colonial portuguesa. Argumenta-se aqui que o interesse por essa planta e sua exploração não derivou somente da presença e colonização portuguesa da Amazônia, mas também da experiência dos portugueses no Oriente e no comércio de especiarias asiáticas, que serviram de referência para a identificação, classificação e uso dessa planta amazônica.
Drogas em verbetes: as atividades econômicas da Amazônia colonial no Dicionário da Língua Geral de 1756
Karl Arenz (UFPA)
Em 2012, foi encontrado na biblioteca municipal de Trier, na Alemanha, um dicionário da Língua Geral Amazônica. Uma primeira análise revelou que a obra foi escrita por um missionário jesuíta de origem alemã, nos primeiros anos da década de 1750, na Aldeia de Piraguiri, vale do rio Xingu. Esse dicionário difere de outros vocabulários redigidos na região durante o período colonial pelo fato de não copiar meramente o idioma tupi estandardizado no século XVII, mas de reproduzir, ao menos até certo grau, o falar local da Língua Geral em meados do século XVIII. Além disso, muitos verbetes são dotados de exemplos quanto à sua aplicação no quotidiano, geralmente em forma de explicações concisas ou de ditados corriqueiros. Assim, entre as entradas acerca da flora local, a menção a determinadas drogas do sertão destinadas à exportação, como cravo e cacau, permite perceber a relevância desses produtos para os falantes da língua, que, por sinal, eram os coletores dessas drogas. Já a frequência, bem maior, de termos como “farinha [de mandioca]” e “peixe” remete à importância desses alimentos para a subsistência dos índios aldeados e, mais amplamente, para o mercado interno. Por sua vez, os verbetes “canoa” e “embarcação” realçam a indispensabilidade desse meio de transporte e de mobilidade para a economia em um espaço tão vasto como a bacia amazônica. Uma análise dos referidos vocábulos, com seus diversos adendos, permite estabelecer um perfil das diferentes atividades econômicas coloniais no contexto de uma missão situada no interior da Amazônia.
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Representações urbanas da Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira: imagens e textos da cidade de Belém em 1784
Ermelinda Moutinho Pataca (USP)
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Nesta apresentação analisamos as imagens e os textos sobre Belém, elaborados em 1784, quando os membros da Viagem Filosófica, comandada pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, permaneceram em Belém para investigar a urbanização e a história natural da capital do Estado do Grão-Pará. Temos como objetivo principal analisar as concepções do naturalista sobre os modelos de urbanização, construídas sob forte influência do pensamento do médico estrangeirado Antônio Nunes Ribeiro Sanches. Primeiramente, destacamos a influência da engenharia militar na constituição do núcleo seiscentista da cidade e na irradiação da cidade-fortaleza, ressaltando as críticas de Ferreira à centralidade geoestratégica na constituição urbana. Em um segundo momento, destacamos as reformas urbanas setecentistas realizadas sob preceitos da arquitetura médica, como a construção do Hospital Real Militar e os projetos de abastecimento de água. Por fim, pensamos em um conceito de cidade-civilidade, expresso nos símbolos urbanos do poder estatal e na construção de moradias e de áreas de lazer e sociabilidade.
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Mesa-redonda 4: Viagens e viajantes: novas abordagens
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Os colaboradores da Viagem Filosófica e a circulação de saberes em espaços atlânticos (1783-1792)
Patrícia Alves-Melo (UFAM)
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A Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira mereceu a atenção de inúmeros estudiosos, que destacaram, entre outros aspectos, suas conexões com as políticas de Estado da Coroa portuguesa, suas dimensões epistemológicas, históricas e antropológicas, além da contribuição a diversos campos da ciência. Contudo, a proposta desta pesquisa é abordar a Viagem por uma perspectiva ainda pouco explorada até aqui. Move-nos a ideia de investigar a notável empreitada de Ferreira dando ênfase aos seus colaboradores, ajudantes, auxiliares e informantes. Afinal, quem foram as pessoas responsáveis por oferecer o suporte logístico, informações e condições que asseguraram o êxito do trabalho de coleta e sistematização levado a cabo por ele? Como era composta essa “rede de invisíveis” que foi essencial para a empreitada, em termos de ofício, posição social, cargos, cor ou procedência? De modo especial, interessa-nos ainda iluminar qual o lugar e o papel das populações indígenas neste contexto, dando atenção particular aos usos dos conhecimentos nativos na construção do conhecimento científico que a expedição filosófica elaborou sobre o vale amazônico.
Um naturalista e seus colaboradores na Amazônia: a expedição de Henry Walter Bates ao Brasil (1848-1859)
Anderson Pereira Antunes (MAST/MCTIC)
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Durante os 11 anos em que esteve no Brasil, o britânico Henry Walter Bates coletou amostras de cerca de 14 mil espécies brasileiras e registrou observações que o fizeram propor uma teoria sobre o mimetismo que hoje leva seu nome. Ademais, relatou sua vivência na Amazônia em um dos livros de viagem mais aclamados de seu tempo. A viagem ao Brasil foi essencial para a inserção de Bates nos círculos científicos britânicos e para sua ascensão social e profissional. No entanto, sem o apoio governamental, institucional ou financeiro com os quais muitos naturalistas contavam, reunir uma ampla e diversificada rede de colaboradores locais foi essencial para o sucesso de sua expedição. Ao longo de seu relato de viagem, Bates fez referência a 221 indivíduos que o auxiliaram. Desta forma, seu livro, assim como os cadernos de campo e sua correspondência, são fontes importantes para a compreensão da infraestrutura humana que tornou possível a sua expedição científica. Nesta pesquisa, enfoco suas relações com os habitantes locais, observando de que forma colaboraram para o êxito de sua expedição, utilizando o software Gephi para visualizar e analisar essas relações. Observar como se davam essas interações é uma forma de compreender melhor a sociabilidade inerente ao trabalho do naturalista em campo e de chamar a atenção para uma complexa rede de indivíduos presente no cotidiano dos viajantes.
Explorações e viagens de Rafael Reyes no rio Putumayo/Içá, 1874-1884
David Ramírez Palacios (UFPA)
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No ano de 1874, em procura de uma rota alternativa à do oceano Pacífico para a exportação da valiosa casca de quina, o comerciante colombiano Rafael Reyes, partindo da cidade andina de Pasto, iniciou a exploração do rio Putumayo (ou Içá), que o levaria de canoa até o rio Amazonas e depois, em barco a vapor, até Belém do Pará. Depois de obter a autorização do governo imperial brasileiro, Reyes iniciou uma década de viagens transportando a valiosa casca vegetal do Putumayo a Belém e daí aos Estados Unidos e à Europa. A empresa de Reyes — que subsistiu até a queda internacional dos preços de dita planta, em meados da década de 1880, quando a Inglaterra iniciou a comercialização da quina transplantada para o Oriente — envolveu debates na imprensa, elaboração de mapas, dificuldades diplomáticas e forte interação com os indígenas. Vinte anos depois de deixar definitivamente as florestas — nas quais morreram dois de seus irmãos —, Reyes tornar-se-ia presidente da Colômbia.
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Mesa-redonda 5: Redes de conhecimento e circulação de saberes na Amazônia
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Nimuendajú, a Senhorita Doutora e os ‘etnógrafos berlinenses’:
rede de conhecimento e espaços de circulação na configuração da etnologia alemã na Amazônia no início do século XX
Nelson Sanjad (MPEG)
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O trabalho analisa a participação da zoóloga alemã Emília Snethlage (1868-1929), pesquisadora e depois diretora do Museu Goeldi, em Belém, na rede de conhecimento que se estabeleceu no início do século XX na região amazônica, destinada à investigação etnológica e à coleta de artefatos indígenas, e que teve, entre seus mais conhecidos atores, os alemães Theodor Koch-Grünberg (1872-1924) e Curt Nimuendajú (1883-1945). Ambos são reconhecidos pelo trabalho em prol dos povos indígenas do Brasil e pelo legado científico nos campos da antropologia, arqueologia e linguística. Menos conhecida, Snethlage teve, entretanto, decisiva participação na inserção de Nimuendajú no meio científico. A partir de uma extensa pesquisa em fontes documentais localizadas no Brasil e na Alemanha, demonstra-se que, no primeiro período em que Nimuendajú esteve vinculado ao Museu Goeldi, entre 1913 e 1921, Snethlage viabilizou suas primeiras expedições e publicações científicas, além de articular suas relações com museus e etnólogos alemães, incluindo aquele que viria a ser seu dileto amigo e interlocutor, Koch-Grünberg, de maneira a lhe permitir trabalhar também como coletor profissional.
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Meios “de salvação para a indústria da borracha no Pará”:
trabalho e inovação na crise da economia da borracha (1910-1920)
Franciane Gama Lacerda (UFPA)
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Para uma parte da historiografia, que se dedicou a estudar o declínio das exportações do látex amazônico, o contexto da chamada crise da borracha é visto como um tempo de dificuldades econômicas marcado por uma profunda crise no comércio amazônico. Se, de um lado, essa perspectiva não deixa de fazer sentido, de outro lado, esse também é um contexto marcado por tentativas de reestruturar a economia por meio de um conjunto de medidas inovadoras, que ia do incentivo à plantação de seringueiras à pesquisa sobre técnicas mais eficientes e produtivas para a extração e defumação da goma elástica, passando pela preocupação com a saúde e a alimentação dos trabalhadores dos seringais. Por meio de Relatórios e Mensagens dos governadores do Pará, e por meio da imprensa paraense, essa comunicação visa entender esse momento a partir dos debates e significados construídos em relação à borracha, à natureza amazônica e aos sujeitos envolvidos nesse processo no estado do Pará.
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Folclore e medicina popular na Amazônia
Márcio Couto Henrique (UFPA)
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Discute as relações entre folclore e medicina popular na Amazônia, tendo como referencial de análise o conto “Filhos do boto” (1946), de Canuto Azevedo (1889-1979). Aponta que os contos folclóricos estão saturados de elementos da realidade cultural e podem ser utilizados como testemunhos históricos que expressam embates entre diferentes tradições. Os registros folclóricos são fruto do diálogo muitas vezes conflituoso entre folcloristas, cientistas sociais, médicos, pajés e seus seguidores, e sua análise deve ser acompanhada de reflexão sobre as condições de sua produção. Neste caso específico, trata-se de refletir, com base no imaginário de sedução e cura em torno do boto, sobre a possibilidade de ampliar o conhecimento sobre a medicina popular praticada na Amazônia, região de forte presença da pajelança cabocla.
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Mesa-redonda 6: Ciência e patrimônio
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Museu Paraense e Museu Nacional: deslocamentos como processo de formação do patrimônio nacional no século XIX
Lilian Bayma de Amorim (MPEG)
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O objetivo desse trabalho é evidenciar como as descontinuidades promovidas por deslocamentos de objetos arqueológicos de um museu regional (Museu Paraense) para um museu nacional (MN), no contexto da Exposição Antropológica Brasileira, realizada em 1882, no Rio de Janeiro, incidiram na formação do patrimônio nacional a partir do vínculo estabelecido entre os dois museus, bem como identificar a relação da origem e do destino por meio da contextualização e da separação dos objetos. Período conhecido como de significativo interesse de viajantes naturalistas estrangeiros em busca de conhecimentos sobre a fauna e a flora da América do Sul, bem como de artefatos histórico-culturais, é no século XIX que surgem os primeiros museus de ciência no Brasil: em 1818 surge o Museu Nacional do Rio de Janeiro; em 1866, o Museu Paraense. O foco do trabalho são os objetos da cultura marajoara, coletados por Domingos Soares Ferreira Penna e Ladislau Netto e deslocados para compor a exposição, como um dos símbolos constituintes da identidade nacional.
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A Amazônia no Rio de Janeiro: plantas de Adolpho Ducke no arboreto do JBRJ
Ana Rosa Oliveira, Aline Cardoso Cerqueira,
Úrsula Hernández Vélez (JBRJ)
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Adolpho Ducke, entre as décadas de 1920 e 1940, fez várias viagens pelo Pará e Amazonas para “organizar uma colheita metódica de material botânico vivo e seco destinado às plantações e ao herbário do Jardim [Botânico do Rio de Janeiro]”. Em um de seus escritos, ele menciona que “os plantios amazônicos feitos em sua época no Jardim Botânico abrangiam mais de 300 espécies selecionadas e que 2/3 delas poderiam ser consideradas como aclimatadas”. Parte dessa coleção – situada na seção 20 do jardim botânico – foi objeto de um projeto de revitalização patrocinado pela Agência Nacional de Águas. Os dados levantados in loco, relacionados com a documentação relativa à constituição da coleção, nos permitiram vislumbrar o seu grande valor patrimonial. Assim, as premissas adotadas para a intervenção nessa coleção trataram de celebrar a paisagem da Amazônia no Rio de Janeiro, com ações que primaram pela requalificação da área e pela melhoria da legibilidade da coleção de plantas, de modo que os visitantes do jardim pudessem vislumbrar e “descobrir” o que já estava ali, porém ainda pouco divulgado: um dos mais importantes acervos vivos da instituição.
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Reconstrução virtual do Hospital Juliano Moreira:
como fazer, da ausência, patrimônio
Cybelle Salvador Miranda (UFPA)
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O edifício do Hospital Psiquiátrico foi lugar de descobertas e avanços no campo da saúde mental no Estado do Pará, entre os anos de 1892 a 1984, buscando acompanhar as renovações da assistência psiquiátrica mundial. Esses experimentos materializaram-se nas publicações do Boletim do Hospital Juliano Moreira (1967-1970), que divulgaram as atividades do Centro de Estudos do Hospital. Assim, o Hospital teve fundamental importância no desenvolvimento do cuidado à saúde mental no Pará, de modo que o apagamento do edifício na paisagem do bairro do Marco da Légua ainda é lamentado, e levanta questionamentos sobre o movimento antimanicomial, que conduziu à demolição do prédio que condensava uma imagem negativa de reclusão e sofrimento. A construção de um modelo virtual, com base em relatos e descrições daqueles que conviveram com o Hospital, tem por intuito promover o resgate da memória social de um patrimônio perdido da cidade, construindo uma referência imagética que permita evocar lembranças e narrativas sobre a história hospitalar e da medicina no estado do Pará. Para confecção da mesma, empregou-se a iconografia da edificação, que, apesar de restrita – em decorrência da perda dos arquivos e da estigmatização atribuída ao hospital –, foi fundamental para a análise estilística e arquitetônica que permitiu a reprodução das formas e dos elementos do objeto analisado.
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O 'Novo Goeldi' de Waterloo da Silveira Landim: virtualização de um projeto arquitetônico não construído (1937)
Haroldo Baleixe (UFPA), Paulo André Dantas (IESAM/Cesupa),
José Maria Coelho Bassalo (UFPA) e Nelson Sanjad (MPEG)
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Na década de 1930, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), fundado em 1866 e reformado em 1894, foi novamente ressignificado dentro de uma agenda governamental de cariz nacionalista e desenvolvimentista. Essa agenda se materializou em projetos de pesquisa aplicados e nas intervenções feitas no Parque Zoobotânico, incluindo as planejadas, mas não realizadas. Entre essas, destaca-se o projeto para a construção de uma nova sede para a instituição, que deveria eliminar o patrimônio construído em benefício de uma leitura paisagística modernizante e adequada ao conceito de 'museu' que vigorava à época. Esse projeto foi elaborado pelo arquiteto Waterloo da Silveira Landim em 1937 e, no ano seguinte, apresentado a Getúlio Vargas pelo diretor do MPEG, Carlos Estevão de Oliveira. Contudo, o projeto jamais sairia do papel, por razões ainda não plenamente conhecidas. O objetivo desse trabalho é apresentar a virtualização do projeto, que se tornou possível graças a pesquisas feitas em jornais da época e no Arquivo Guilherme de La Penha (MPEG), durante as quais um conjunto de plantas e perspectivas foi reunido e disponibilizado para o desenvolvimento do ambiente virtual. Espera-se, com esse resultado, incentivar novos estudos sobre a arquitetura de museus e seus significados históricos.
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Mesa-redonda 7: Saúde pública e medicina: doenças em expansão e reemergentes
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Leishmanioses do Novo Mundo em perspectiva histórica
Jaime Larry Benchimol (Fiocruz/RJ)
A comunicação trata de teorias e práticas relacionadas às leishmanioses do Novo Mundo durante o século XX, em uma moldura que inclui as dinâmicas desse complexo de doenças no Velho Mundo. Os primeiros casos de leishmaniose cutânea e muco-cutânea nas Américas foram descritos em 1909; investigadores latino-americanos alcançaram grande visibilidade na rede internacional da medicina tropical com trabalhos sobre essa doença, que consideravam autóctone, logrando consolidar o conceito de Leishmaniose Tegumentar Americana nos anos 1930. Somente em 1934 a leishmaniose visceral irrompeu como problema de saúde pública na região por força de rotina ligada à campanha contra a febre amarela. Hoje, o Brasil é o país com o maior número de casos de Leishmaniose Tegumentar Americana e, junto com a Índia, tem a mais elevada incidência de leishmaniose visceral. A produção de conhecimentos e os esforços para controlar essas doenças, que incidiam principalmente sobre as populações rurais, mobilizaram profissionais de saúde, cientistas, agências e instituições nacionais e internacionais. Minha pesquisa trata das interações, dos intercâmbios e das controvérsias geradas em diferentes contextos históricos quando mudanças notáveis ocorreram na abordagem das leishmanioses do Novo Mundo.
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O retorno do Aedes aegypti e das arboviroses urbanas no Brasil
Gabriel Lopes (Fiocruz/RJ)
O objetivo do trabalho é analisar historicamente o retorno e o estabelecimento do Aedes aegypti como principal transmissor de arboviroses urbanas no Brasil. A permanência deste vetor e sua domesticação nos principais centros urbanos brasileiros na década de 1980 provocaram temores sobre o retorno da febre amarela urbana e também abriram caminho para a circulação de arboviroses com efeitos sem precedentes, incluindo a dengue hemorrágica e a síndrome congênita de zika nas décadas posteriores. A pesquisa terá como foco inicial as epidemias de dengue ocorridas nos anos de 1980, bem como o medo do retorno da febre amarela urbana nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil a partir do alastramento do Aedes aegypti por todo o território brasileiro.
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Mesa-redonda 8: Ciência, cooperação e desenvolvimento na Amazônia
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Harald Sioli e a formação de uma rede transnacional de estudos da ecologia amazônica (1945-2004)
André Felipe Cândido da Silva (Fiocruz/RJ)
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A comunicação trata da trajetória do limnologista alemão Harald Sioli (1910-2004), que a partir dos anos 1940 realizou estudos sobre a hidrologia das águas amazônicas, correlacionando os perfis físico-químicos com os processos geológicos e as paisagens. Sioli abordou as águas como o sistema renal daquele ecossistema, permitindo-lhe analisar as dinâmicas ecológicas de forma ampla e integrada. Trabalhou entre 1945 e 1953 no Instituto Agronômico do Norte e participou do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), criado em 1953. Instituiu um programa de cooperação deste com o Instituto Max Planck de Limnologia, no âmbito do qual foram realizados estudos sobre a ecologia amazônica que seguiram em grande medida as vertentes de pesquisa abertas por ele. O objetivo é analisar a conformação dos enunciados de Sioli e qual seu papel na construção dos discursos e percepções da bacia amazônica.
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A Amazônia nas relações científicas Brasil-Estados Unidos (1940-1950)
Magali Romero Sá e Dominichi Miranda de Sá (Fiocruz/RJ)
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O trabalho analisará a montagem de programas de desenvolvimento de recursos pesqueiros na bacia amazônica a partir da criação da Comissão Brasileiro-Americana de Produção de Gêneros Alimentícios, em 1942, como parte de acordos diplomáticos e de cooperação no esforço de guerra entre Brasil e EUA. Seu foco são as redes bilaterais constituídas a partir de instituições locais de desenvolvimento regional, com especial atenção ao Instituto Agronômico do Norte (IAN), sediado em Belém e fundado pelo governo brasileiro em 1939. O IAN foi um dos maiores polos brasileiros da colaboração científica com os norte-americanos em campos disciplinares variados para a introdução de espécies vegetais e animais que possibilitassem a produção intensiva de alimentos na Amazônia brasileira.
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Ciência na Amazônia da Era do Desenvolvimento: vírus e instituições
Rômulo de Paula Andrade (Fiocruz/RJ)
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O objetivo da comunicação é apresentar um breve panorama de instituições de ciência na Amazônia, bem como congressos e trabalhos realizados por cientistas na região durante a chamada “Era do Desenvolvimento”. O recorte temporal privilegiado reside nos anos 1950 e 1960, quando a Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia, a primeira experiência de planejamento regional brasileira, foi criada, com objetivos amplos em diversas áreas, como agricultura, comércio e ciência. Sob um contexto de intervenções estatais profundas no meio ambiente, mulheres e homens de ciência exploraram o campo aberto por conhecimentos que se desenvolviam naqueles anos, como a virologia.
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